Garotas

Garotas...

Nascemos... e todos parecem tão felizes: presentes e mais presentes, vestidos enfeites e mais enfeites, meias, sapatos que apertam, bandôs que nos machucam. Mas todos estão felizes e aí...

Crescemos...e aparecem as diferenças.Os homens de nossa família nos agradam, as mulheres, nem tanto. Brincar é olhar pro espelho de nossa mãe, com as roupas dela, com os sapatos dela, com a maquiagem, a bolsa, o sonho...

Não tive filhas, mas sei que desde pequenas, nós somos algo muito mais complexo que os simples homens. A vida é complexa e cheia de sensações. A vida tem cheiro, cor e som.

A sensação de que o sexo não é só a parte de baixo do nosso corpo e sim um universo dentro de nós: olhamos com o sexo feminino. É bom brincar com meninos, mas só às vezes. Tem menina que gosta: Havia duas irmãs que eu morria de medo delas. Eram bonitas, faziam sucesso entre os garotos. Brincavam de futebol com eles como se fossem iguais, andavam de bicicleta como se fossem eles, subiam em árvore, brigavam como meninos, com as meninas ou não. Eu fugia das duas, tinha medo de que me machucassem, e as achava estranhas, , não sabia o porquê: “nossa como eram fortes e atraentes”- desejava ser um pouco como elas, mas eram tão másculas!
Brincavam de beijar os meninos numa brincadeira chamada “Pêra, uva ou maçã”, onde ninguém sabia quem iria beijar, só onde, dependendo da fruta. Os meninos faziam fila pra tentar ser um dos escolhidos pelas desejadas garotas. Elas eram um pouco mais velhas que eu. No curso médio, bem depois dos 15 anos, as duas noivaram. Eu achei tão estranho: noivar ...o que é isso? Bem, deve ser algo muito bom, pois foram escolhidas por rapazes bonitos e namoravam todas as noites no jardim de casa, sentados em cadeiras separadas.
Às vezes tive oportunidade de voltar pra casa, mais ou menos no mesmo grupo da escola. Voltávamos a pé. Uma delas com o noivo: não se tocavam, parecia que ela não gostava muito de chamego, não. Andava como um homem, pernas abertas...Certo dia, soube que o noivo morrera afogado, num açude. Foi muito choro e desespero. Não era amiga delas, não freqüentava a casa, mas tinha amizade com uma de suas amigas e por isso via meio de longe o que acontecia. Mais tarde, depois de perder o contato com as figuras, soube que haviam assumido as suas sexualidades – as atitudes que eu na minha ingênua ignorância denominava de “estranhas” estavam explicadas – eram apenas lésbicas.

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