Ele não faz meu tipo

Por muito tempo esse medo do perto pedurou. Tive o primeiro namorado aos 15, aquele que vem à noite pra conversar, etc,etc... durou pouquíssimo, mas meu primeiro beijo foi um pouco antes - mais do que roubado, tirado à força. Foi um rapaz que eu conheci na casa de umas ex-vizinhas. Elas mudaram-se para a praia e fui duas ou três vezes lá. Ele era amigo delas e cismou comigo. Não era feio, mas também não era o tipo que eu sonhava - e aí?
E aí ele grudou em mim. Acompanhou-me até o centro da cidade, numa dessas idas à praia. Queria ir até a minha casa e eu não deixei - "mas que coisa! minha forma de amar é platônica! Me larga!"
E ele não largou, agarrou-me e beijou na boca; não beijo de novela, mas beijo de verdade. Lembro-me das luzes da cidade, faróis de carros, ônibus, barulho - vertigem...
Sinceramente eu não saberia definir o que senti - se gostei? acho que sim! Mas não era aquele o ator que eu queria.
Hoje, eu analiso as atitudes dele e simplesmente é fantástico para um adolescente : CORAJOSO, IMPETUOSO!
alguns dias depois, voltei do cinema, num domingo, era meu aniversário. Descobriu meu endereço e lá estava ele, sentado, interagindo com toda a minha família como se fosse íntimo, imaginem a cena! Minha avó o achou o máximo - ora, fazendeiro, simpático e apaixonado: falou pra todo mundo que era meu namorado, o cara!
Deixei rolar a conversa, mas no final disse a ele que não deveria ter vindo e acabou... pra ele.

E assim, "fiquei" sempre com vários garotos, sem paixão, mas por ficar. Eu queria experimentar, eles não, queriam mais. As minhas paixões, até então, tinham que ser intocadas, alimentadas de longe...

Uma paixão que alimentei bastante, não mais tão platonicamente como antes, foi um colega de escola. Ele era mais baixo que eu, magro - ou seja, não estava nos meus padrões estéticos "tão rígidos"-, mas era inteligente e bonito. Era atração pura. Vivíamos implicando um com o outro, sempre conversando em grupo, nunca sozinhos. Os olhares - lembro-me de todos - era como se nos beijássemos todos os dias, mas da boca só saíam flechas, ironias, um contra o outro. Isso durou todo o curso médio. Ele dava aula pra meu grupo de amigas, para mim, ele era de uma série à frente da nossa - nesses momentos eu sentia um carinho enorme da parte dele. Os olhares diziam tudo.
Nós largávamos da escola e lá estávamos nós, na praça onde esperávamos o ônibus. Ele morava perto da escola, mas sempre nos reuníamos lá pra conversar, sem se importar com o tempo. Como era gostoso aquela absoluta falta de preocupação com o tempo!... Foi assim até o final e nada de mais rolou entre a gente. Era tudo muito velado e ao mesmo tempo e por isso mesmo, gostoso de sentir - ainda medo do perto - "e as pessoas, as colegas, minha família, o que diríam? ele era baixinho, magro" - quanta bobagem !

No meio disso tudo, uma de minhas amigas ficou também interessada por ele, mas ele não e, como é peculiar entre mulheres, ela ficou com raiva de mim por atrapalhar o lance dela. Eu não fiz nada, só existi, mas... nossa amizade acabou por isso. Já adultas, nos vimos num supermercado e ela virou-me o rosto. Coisas de mulher...
Ele: perdemo-nos de vista, até um dia que nos encontramos num ônibus; estudante de medicina, fazendo residência, indo para o hospital. Eu voltava pra casa do meu estágio do curso de jornalismo. Foi "aquele encontro!" Fui com ele ao hospital que era perto da tal praça da nossa adolescência. Fomos à praça e fizemos o que deveríamos ter feito na época de escola: muito beijo, muito amasso mesmo. Tiramos o atraso, mas ficou, também, por aí.
Não me perguntem porquê. Poderíamos ter feito tudo como adultos que se curtem, mas não. Ponto final.
Descobri onde trabalha hoje, pela internet. Liguei pra ele. O tom de voz me pareceu o mesmo... Está viúvo.
Bem, acho que não vou me contentar em falar só pelo telefone. Depois quem sabe eu retomo essa história...

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