Conversa de Academia

Ouvi uma conversa na academia, outro dia, sobre “ficar gostosa para os homens: que o termômetro para se saber bonita, seria passar numa obra, numa construção e os pedreiros pararem para olhar”. É incrível, nos dias de hoje, pessoas relativamente jovens ainda terem tamanha bobagem na cabeça.
Bom, tirando a mediocridade e a velhice da afirmação, pensei:
Jamais quis atrair esse tipo de olhar! É tão grosseiro, tão feio!

Apesar de referirem-se aos homens, quando as mulheres falam em serem gostosas, só consigo sentir que é para competir entre si e não ser para si mesmas ou para serem admiradas pelos homens. É isso que denotam. Na verdade parece que todo mundo resolveu sair na Playboy, agem como se fossem se exibir diante da câmera amanhã.Sabemos que a mídia é a grande estimuladora disso, mas a neurose é culpa nossa. Nosso espelho anda embaçado, acho que é a "facilidade" em alterar, corrigir defeitos que provoca esse tipo de visão. Os pequenos defeitos ficaram maiores, pois é só fazer uma lipo, uma plástica e pronto. As clínicas de estética agradecem também, criam fórmulas que modificam pouco ou quase nada e a cliente ainda sai satisfeita. A saúde?... Pouco importa. O importante é o espelho, o que acham que veem.

Comecei a voltar o meu filme e lembro-me que a partir de um determinado momento de minha vida passei a atrair quem eu realmente queria e me queria, o resto era só filtrar.Os homens que olhavam apenas volume ou belezas unânimes, mesmo sendo bonitos ou atraentes, perdiam o encanto diante de mim, e, portanto, não me interessavam mais. Passei a privilegiar outras coisas além da imagem num homem e foi ai que me senti segura em relação ao meu próprio corpo.
Na adolescência, salvo as unanimidades, pois todo mundo as elogia, as pessoas veem o espelho de maneira crítica demais e hoje em dia, para complicar, rotularam padrões a serem seguidos – os sarados e as malhadas.Ao entrar num ambiente com garotos e garotas, eu adolescente, não mais competia com elas, não olhava mais as diferenças entre mim e as outras, mas sim assumia a minha diferença, o meu ser mulher, única e especial. Sou assim ainda.
Na verdade não há receita pronta para a gente descobrir o melhor para nós mesmas, e é lógico que a beleza é fundamental numa relação: não adianta dizer que a beleza interior é o mais importante, pois na maioria das vezes, não é ela que nos aproxima de uma pessoa num primeiro momento. Tudo é importante, mas o determinante não pode ser ela – é preciso achar e sentir outras coisas em uma pessoa para que algo verdadeiro aconteça. Resumindo, se você dá importância demais ao externo, significa que você vai se cobrar demais também em relação a sua aparência e ai começam os problemas de auto-estima.

Que importa se fulana tem bundão – a preferência nacional ?ou se é malhada? eu sou bonita como sou! Posso até correr atrás de melhorar fisicamente, mas se a gente vive comparando, sempre haverá os mais bonitos os mais feios, os mais ricos, os mais pobres, os mais isso e menos aquilo. Ou você cresce ou se diminui perante os outros e isso não é bom. Ou você torna-se um monstro arrogante ou um coitadinho, cheio de autopiedade.

Os homens nos enxergam diferente. Basta você escutar as coisas que os que realmente interessam nos dizem a respeito do nosso corpo: os namorados ou paqueras, ficantes, entre outros. Já me disseram tanta coisa boa de ouvir, mas a mais interessante de todas foi me comparar a uma empada. Já pensou? Isso, empada mesmo, aquela que se come. O curioso mesmo disso é que foram em épocas distintas e homens que nunca se conheceram. E por que empada? Eles, todos, disseram que era porque eu me desmanchava na boca, gostosa. Bom de ouvir, né? O último a dizer isso foi a pessoa com quem eu vivo há um bom tempo.

Já fui elogiada pelo meu colo: é, a área antes dos seios. Foi um paquera, ficante - ele disse de uma maneira tão delicada e simples que me deixou envaidecida. Foi e é inesquecível. Ouvi, por exemplo, um namorado dizer que era tarado pelo meu bumbum, no meio de muita gente na rua, enquanto eu andava a sua frente – também é inesquecível; eu não esperava – aliás o bom do elogio é não esperar por ele; minhas pernas, as campeãs, foram elogiadas inclusive por mulheres. Recentemente, alguém disse que eram muito bonitas, pareciam pernas de gueixa e que “muitas mulheres gostariam de ter a batata da perna como a minha” - assim de supetão. Enfim, são esses os sinais que nos mostram o espelho que devemos nos mirar e não aquele que nos deixa inseguras e nos faz querer ser quem não somos. Nada contra ajudar a natureza, mas sempre de maneira saudável, sem exageros, sem neuroses.

Meu corpo é meu e eu gosto dele. Não o vejo e nem tenho a pretensão de vê-lo perfeito, sei que não é, está longe disso, mas sempre me deu satisfação.!E hoje mais do que nunca!Sempre cuidei dele, não apenas me mexendo, pois desde adolescente sabia da importância disso para a saúde dele, mas também cuidando do que eu como, e ele me retribuiu sempre esse cuidado. É isso.

Comentários