Pensando o casamento 2 Por Regina Navarro

Em um casamento, o companheirismo, a solidariedade e o carinho vão aumentando na mesma medida em que o desejo sexual vai diminuindo. A explicação mais ouvida para isso é que a rotina do dia-a-dia transforma o sexo num hábito, e como tudo o que é habitual vai perdendo a sensação de prazer, ele vai sendo feito automaticamente. Há quem diga também, de forma conformada, que a emoção no sexo só existe mesmo no início de uma relação, e o que resta, depois de algum tempo de vida em comum, é uma grande amizade. A única coisa que não entendo, então, é por que temos que dar satisfação, ter compromisso de horário, dormir na mesma cama todas as noites, com uma pessoa amiga. Não seria muito melhor sermos livres e encontrarmos os amigos apenas quando sentíssemos vontade? Quem sabe, assim, a emoção do sexo poderia ressurgir, e a vida, sem tantas obrigações desnecessárias, poderia ser bem mais interessante.
Na realidade, existe uma razão ainda maior para que no casamento o sexo se transforme em algo monótono e sem graça. É a ideologia da monogamia, que sempre foi adotada para a mulher e que de 30 anos para cá passou a atingir também os homens. Atualmente, homens e mulheres cobram fidelidade sexual de seus parceiros. Sem dúvida, essa obrigação de um só poder se relacionar com o outro mina progressivamente a relação. Por um lado as pessoas se sentem apaziguadas e seguras, acreditando que o parceiro nunca terá olhos para ninguém. Por outro, a mesma certeza de posse e de exclusividade que faz as pessoas se sentirem garantidas no casamento, leva à acomodação, inibindo o desenvolvimento de uma vida sexual criativa com o parceiro. Não existindo mais o estímulo da sedução e da conquista, o sexo vai se deteriorando.
É curioso assistir à cobrança de fidelidade feita nas relações estáveis, porque na verdade todos sabem que ela não existe. Temos notícia o tempo todo de relações extraconjugais de gente que nos cerca ou mesmo de pessoas famosas, como os membros da família real inglesa ou o presidente do Estados Unidos. Mas, inexplicavelmente, quase todos continuam defendendo a fidelidade como se fosse fácil e natural do amor, e a estabelecendo como condição para o casamento.

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