Slow Motion 1

Passei por ele. Apenas o cumprimentei com um toque na sua cintura. Ele estava distraído, conversando com alguém (distraído, seguindo-me pelo olhar: um disfarce, um fingir que não vê, vendo...). Passei por trás dele e sentir vibrar suas mãos como se quisessem prender as minhas... um vento sentido, uma forma de vibração jogada pelo ar, o ar em movimento... Era sua mão procurando a minha e tentando me alcançar, enquanto eu, de costas, já um pouco à frente, fingindo não querer a sua... (displicências...saudades do ontem...)

Alcançou-me, segurou minha mão e me puxou como numa dança; ainda relutei em não me voltar, incrédula depois de tanto tempo, e lá estava ele puxando-me de novo para perto - fração de segundos... lentos, o filme em slow motion, a vida em slow motion...

Voltei-me inevitavelmente em sua direção, mas assim como quem não quer, assim sem haver esperado, cedendo a aquele chamado tão silêncioso que fazia vibrar meu corpo inteiro - eu não o queria mais, não queria desejá-lo, não desejá-lo e pronto!...

Sentindo que me voltava em sua direção, vendo o mundo girar naquela volta, soltei o corpo na dança e estava finalmente na direção de sua boca, ele me puxando, ele querendo - precisava (precisava?) desviar, mudar a posição do rosto rapidamente e acertar a face (direita ou esquerda - segundos pra resolver, decidir e o titubeio dos dois de qual alvo acertar... segundos para não deixar acontecer o que se queria ardentemente... segundos para não errar o alvo ou para errá-lo de propósito, pelo bem da platéia tão digna... pelo nosso mal) e aí o beijo acontece entre riso e entreolhares tímidos. De frente, um para o outro e a platéia esperando o beijo social: Que vontade do beijo - não o da face, mas o da boca!...

Rossana

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