A burca ocidental

Acho que todo mundo está de acordo de que seria impensável para uma ocidental usar uma burca, aquele traje que esconde até os olhos uma mulher e que é exigido em alguns países islâmicos. Um objetivo: não tentar os homens, não provocar seus instintos masculinos.

Entretanto, a mulher de uma forma ou de outra, esteja onde estiver, usa uma espécie de burca que é invisível e que a esconde - não para que ninguém a admire, ou a deseje literalmente, mas sim para que através de sua postura não se mostre. Através de atitudes que tolhe seus desejos, sua vontade, transforma-se em alguém que não seria bem ela, se "a" retirasse.

Esse "traje" invisível é poderosíssimo! Poderoso principalmente, porque agrada a todos - é cômodo, não faz calor, é suave, não choca, não ostenta força ou poder do consenso social - e a mulher aceita também como algo divino. Na maioria das vezes, a mulher veste "esse traje" quase achando que faz parte de sua pele - é uma segunda pele.

A mulher ocidental é educada para não ser rejeitada, não ser julgada como "mulher à- toa", mesmo que seu comportamento jamais chegue a ser de uma mulher vulgar ou então de uma profissional do sexo: ela tem "um nome a zelar", "nome de mulher". Tudo que se tem a fazer é vestir o traje da reputação ilibada - sem libido, sem sal, sem açúcar.

Não estou falando da chamada "mulher de vida fácil", não estou falando de mulheres que fazem questão de serem notadas pelo corpo, e só por ele - essas parecem que são liberadas, ousadas, mas entraram em outro nível de conceito perante a sociedade e que não fogem dos preconceitos machistas, aliás alimentados por elas mesmas, uma vez que estão a serviço deles -os machos.

Estou falando do ser mulher, esposa, mãe, a santa que precisa esquecer de si mesma para ser respeitada. O olhar feminino fica assim reduzido ao lar, ao marido, aos filhos e de vez em quando, a uma carreira ou profissão, ou ao simples trabalho, sempre mais voltado para "ajudar" o marido.


Dessa forma, o casamento fica protegido de vontades "alienígenas", de amizades masculinas; fica, assim como o corpo na Burca, protegido por uma redoma mesmo que invisível, e por isso mesmo, muitas vezes, intransponível.

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