Slow Motion 2

E lá estava ele, de vez em quando me olhando de longe; ora sem disface, direto, mas de longe; ora fingindo não querer o perto...O lugar: o de sempre, o de todos os dias. Admirá-lo virou um hábito, aliás é o máximo que nos permitimos: Nunca vi pele tão linda de ver, tão macia de tocar - a cor, a textura: um chocolate, amargo, derretendo na boca!
À distância, eu, fingindo também não percebê-lo, mas o seguindo com os olhos sob os óculos escuros. Lá estava ele, deixando-se seguir. Depois, era só advinhar os momentos seguintes: segundos prazerosamente intermináveis, adiados através do silêncio e dos olhares furtivos - mudaria de direção e já se aproximava, sem sorrisos, sem palavra, devagar, exitante, como se não quisesse chegar, como se não devesse chegar... Lindo vê-lo, cada passo, naquela dança de novo!...

Como um monge, calado, suave e irresistível, cada vez mais perto ... Chega afinal e
sua pele sem mácula, agora de perto, lembrou-me uma escultura de Rodin - pedra polida, embora viva, embora quase inerte.
Num átimo, sem olhar-me nos olhos, sinto que vai me tocar ... e pronto: segura a minha mão, firme, levando-a lentamente em direção a sua boca... segundos, fração deles, de novo em imagem lenta... o destino é o calor, o toque da boca - desejava a dele na minha.

E aqueles segundos, eu, ansiosa, querendo guardá-los pra sempre e dele não me afastar até que a minha boca o tocasse - sorrio e retribuo o beijo em sua mão macia, chocolate quente... lentamente... movimento, um após o outro e são seus olhos tocando os meus, e sua pele, a minha.

Em camera lenta, em movimento oposto, agora se afasta. É ele, como se tivesse cumprido um ritual: o de chegar perto sem chegar, desejar e não querer, poder e não se permitir. Os momentos seguintes foram agora vê-lo se distanciando, longe, num silêncio inquieto, tenso...
E ficaram os beijos nas mãos. A formalidade de sempre. Fim.

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