um Jogo 2

Meu parceiro no jogo, ao longe, procurava-me com o olhar e eu fingia não estar sendo assistida como num reality show. Pelas suas regras "o perto" deveria acontecer logo, mas para mim, aquela distância fazia parte de minha descoberta como quase mulher, do meu corpo, do meu prazer.
Então eu queria ficar bonita, provocante até, mas deixar chegar junto... - "nunca!" Pensava nele o dia inteiro, sonhava acordada e esperava a noite chegar... E tinha noite que ele não vinha e a ansiedade subia a níveis extremos -"por quê?" - e estudar ficava difícil e não tinha com quem dividir aquele sentimento que eu ainda não entendia direito.
Estava entrando numa área que poderia ser perigosa: seduzir um homem e sentir prazer em apenas vê-lo desejar.  E isso tornou-se mais importante pra mim do que ser tocada. Esse era o meu prazer adolescente, sentido e provocado tantas vezes depois, já adulta.
Numa dessas noites, ele se afastou como se estivesse indo embora, desistido: eu acompanhando-o em cada movimento, querendo que ficasse (pra quê?!) - voltou-se e fez um sinal me chamando. Já era tarde, na minha casa todos já dormiam. A vizinhança, creio que também. Havia um silêncio perturbador que poderia ser aquele da noite ou o de dentro, que a gente simplesmente aumenta: Gelei.  O coração disparou. Vertigem, calor, as pernas doíam, tudo ao mesmo tempo! Para ele, havia chegado a hora. Tentei sair do lugar, não consegui. Não fui. 
Apesar das minhas fugas, insistiu várias vezes em chegar mais perto com a ajuda do tal vizinho. Mas mesmo depois de eu ter tido namoradinhos, ele continuava me assustando... talvez pela descoberta do porquê do segredo... talvez porque, mesmo com pouca idade, algo que chamam de inteligência emocional já tivesse sido em mim acionado: algo que me protegia do deixar-me levar apenas pelo corpo.

Assim, essa loucura durou algum tempo, um ano , talvez dois ... só o longe, o prazer adiado do toque, da descoberta...Ele era noivo, soube de seu casamento quando subitamente sumiu.
Vi-o algum tempo atrás, num supermercado - grisalho... olhei pra ele, mas ele não conseguiu me ver ou fez que não me viu. O tempo passou.



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