Um Jogo 1

Lá estava eu jogando voley - suja, suada, descabelada, no meio da rua ... de repente, senti aquele olhar em cima de mim, olhar de homem - não era adolescente como eu, nem tampouco tímido, e era  bonito dentro dos padrões de imagem: esses de cinema e tv, que nos fazem sonhar na adolescência. Eu parei de jogar,  estanquei ... meus companheiros não. Fiquei naquela posição por alguns milhares de segundos...

Sabe aquele olhar pra trás procurando alguém interessante? pois é -  "não podia ser comigo!" - mas era e naqueles segundos, eu me senti nua diante daquele homem, envergonhada como se assim estivesse - eu com  meus quase quinze e ele, alguma coisa depois dos vinte (idade... sempre idade...). Lembro-me que olhei pra minha roupa e percebi um botão fora do lugar - enxerguei, pela primeira vez meu corpo de mulher despontando num decote...
 Frio na barriga, torpor, pânico - eu, descabelada, suja, suada, sempre tão patinho feio! naquele momento: mulher - "oh!" bonita, desejável... euzinha... mulher.
Peguei-me assustada como se tivesse algo a enfrentar e mesmo desejando o perto tremia de medo - era insegurança, ansiedade, sei lá, tudo ao mesmo tempo. Talvez porque nunca até então, havia sido beijada, tocada por alguém e ele... era um homem; Depois percebi que além dos medos normais de menina descobrindo o mundo, talvez fosse  porque ele, estranhamente, agia como o que fosse acontecer teria que ser um segredo.
Assim, em segredo, como homem, fez quase de tudo para o perto: frequentava o prédio em frente ao meu. A partir daquela descoberta do olhar, ficou ainda mais frequente - passava horas à noite, da varanda do vizinho, olhando em direção ao meu apartamento: as janelas  com vidraças, as paredes vazadas pelo cobogó, permitiam que devassasse um pouco da nossa intimidade  e  me colocasse em sua mira.  Eu?  deixei-me levar um pouco pelas regras do jogo  secreto que ele estabeleceu e estabeleci as minhas próprias: afastava as cortinas - nada pra atrapalhar  aquele jogo que sem ele saber  e sem que eu  mesma tivesse consciência, ditaria  as regras.

Agora, o sentimento não seria só medo do perto,  mas sim um prazer também estranho de provocar e de vê-lo provocado.

Comentários