Cansada de um dia cheio no escritório - em vez de ir pra faculdade, tomei o ônibus para minha casa . Era cedo ainda e o ônibus não estava vazio. Eu estava de pé, olhando em torno, procurando um lugar pra sentar - aí eu dei de cara com César. Era ele sim, naquela hora, naquele lugar. Sorrimos e tentamos chegar próximos um do outro no meio de tanta gente: Chegamos! e depois de tanto tempo sem nos ver - éramos adolescentes na última vez que nos vimos. Os 16,17, 18 anos, a escola, as conversas com nossos grupos, o adiar voltar pra casa, conversando numa praça e estimulando a nossa descoberta num mundo onde não éramos mais crianças e sim, quase homens e mulheres... Perto um do outro, no meio de tanta gente, num ônibus, e as perguntas de sempre e um "pra onde você vai?" duplo e as respostas: "- Vou pra casa..." disse com aquele ar cansado e ele: "- Pra o hospital, tô fazendo residência.Vem comigo."
Saímos do ônibus e andamos devagar pela rua próxima ao tal hospital, conversando e nos olhando de vez em quando, meio sem saber como esconder a alegria que estávamos sentindo naquele momento: Eu e César éramos um amor antigo, uma paixão antiga..."menino" e "menina" que se desejavam mas não estavam prontos... prontos exatamente pra que e por que deveríam estar? - bastávamos ser. Mas no final da rua tinha uma praça e era a tal perto da antiga escola, perto do passado tão distante quanto a vida que escolhemos, cada um com seu caminho de adulto. Rimos, falando daquele passado cheio de sensualidade disfarçada, olhares furtivos, palavras ditas sem pensar às vezes até para ferir - amor de adolescente, não de criança. Rimos da nossa sensualidade que ainda existia e resistia depois de tanto tempo.
Deixamos na praça, mais uma vez, um desejo agora de adulto. Ficou como passado de novo.
César foi descoberto por mim na internet ontem: liguei pra ele - está viúvo...a voz é a mesma, o jeito de falar... mas se o rever, não será numa praça.
Rossana
Comentários
Postar um comentário