Andar Acima

Ela entrou no elevador. 
Iria pegar um material pro marido no escritório do cunhado. O marido a esperava numa pickup carregada de coisas que haviam acabado de comprar. 

Chegou no andar do escritório e ao entrar, ele, o cunhado, a estava esperando. Cumprimentaram-se como sempre e ele explicou que deveriam subir  alguns andares acima onde guardava o tal material. 

Durante o trajeto no elevador, falaram sobre tanta coisa: e o calor e a irmã, e os meninos e os filhos dele e a pressa e "Jorge?" - Lá embaixo, tá com a pickup carregada...

Saíram do elevador e entraram na  sala de material. Ele fechou a porta por  detrás dela. E ela, de costas pra ele, sem esperar, sente o abraço em sua cintura e ele a aperta contra si e a vira de frente. Ela sem saber o que fazer - não havia nunca imaginado algo parecido, não percebeu interesses e gostava dele, da pessoa dele - era um amigo sem outras intenções. Há 15 anos casada, a mão de outro homem, o calor de outro homem, o beijo de outro homem eram surreais... tudo era estranho como se sonhasse e a sensação era daqueles sonhos que não terminam... mas não era prazer ...

Ele a abraçava forte e a beijava sem uma total correspondência; ela sentia sua língua,  sem permissão, sem aceitação, mas sem total  repulsa... e assim, nesse quase permitir, ele tocou-lhe o seio com uma das mãos, enquanto seu corpo preso a ela, a prendia contra uma mesa e com a outra mão, levantou-lhe a saia apertando-lhe a nádega ritimadamente - um frio percorreu-lhe o corpo e esse seria uma sensação quase prazerosa. Sem deixar-se levar, ela tentava inutilmente se pôr de pé  e  com a respiração cortada, difícil , olhando em volta como quem procura algo para se segurar - notou a sala cercada de vidraças, sem cortinas... sozinhos, mas visíveis, ela sendo tocada daquela forma: pensou no marido, no carro, a esperá-la - queria resistir e não ceder ao corpo. Era estranho o beijo, eram estranhas as mãos, era ela estranha na situação, naquele momento. Olhou  então para ele, tentando reconhecê-lo... não conseguia enxergá-lo: viu um estranho, um homem com fome, um quase animal; tesão no rosto, torpor insano, lutando pela presa.

Apesar da lucidez numa hora como aquela, não se sentira ofendida - "por quê  se sentiria?!" -  além do arrepio,  nada mais, nem mesmo a vaidade havia sido acionada. Buscou relaxar - "aquelas vidraças!(?)" - mas talvez pela mesma lucidez, não conseguia  deixar-se levar pela luxúria... do outro. ( Ou talvez fosse falta de tesão mesmo e ela não era uma profissional, alguém que satisfizesse os outros antes de si mesma. )E via, agora de olhos fechados, o marido lá embaixo, esperando por ela e pelo material e isso não aumentava  sua libido - a dele parecia estar a mil...

Aí ela disse... "não!" e ele, "por quê?" e ela arfando, repete o não, agora tentando afastá-lo. Ele reluta, mas termina aceitando o afastamento, do contrário seria currá-la e não era seu objetivo: ele a queria querendo, cedendo ao seu apelo. Buscou palavras que a fizesse aceitar, mas ela insitiu:  - Não!

Desceram pelo elevador, em silêncio, e se separaram no andar do escritório dele. Ele a beija no rosto, beijo este que é retribuído, como sempre. Ela seguiria para o térreo tentando se arrumar, se recompor... quando então, entra um estranho e ela, fechando os olhos, agora sentia a sua vaidade  e uma vontade de dizer: "olha, fui desejada agora a pouco... alguém me tocou e me agarrou com força e tesão, quase me despiu, sabia?" Sorriu.

O térreo chegou. Ela respirou profundamente, retocou o batom e seguiu em frente, rumo ao estacionamento, sem esquecer do tal material em suas mãos.
Rossana

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