Ao chegar no escritório, um tanto ansiosa para uma entrevista num primeiro emprego, Júlia encontrou um homem de trinta anos mais ou menos, super simpático, que seria seu chefe: Roberto era gentil e fez questão de ouvi-la, deixando-a à vontade. Entrevista acabada, disse-lhe então, que começaria no dia seguinte.
(....)
O chefe a chamava com frequência em sua sala; fazia-lhe ficar às vezes, após o expediente, para trabalhos sempre urgentes e extensos; conversavam muito entre uma atividade e outra - ela o divertia. Roberto ria com sua jovialidade. E Júlia ficava, ficava com prazer! Certo dia, ele disse, assim displicentemente, que adorava seu sorriso, que o bastava para ser um bom dia. E o dele - o sorriso - acabou também significando muito para ela. Seriam assim...quase... amigos.
Naquela troca de simpatias, empatias diárias, de repente - ciúmes! Casado, a esposa aparecia de vez em quando no escritório e isso começou a incomodá-la bastante . - "Como ciúme?!" sentia o coração apertar e um pouco de raiva de si mesma.
Então, percebeu que ele também sentia ciúmes: visivelmente contrariado, Roberto cobrava trabalho somente ao vê-la conversando no break com algum dos dois colegas com quem se dava bem, gente da sua idade, bonitos e interessantes. Estariam... quase enamorados.
Saíram após o expediente. Júlia e Roberto.Era bom estar com ele, sentia-se realmente à vontade, parecia que o conhecia há anos. Conversaram muito: ela falava mais e ele a observava e sorria com tudo que ela dizia . Bebia bastante. Ela? descobriu a vodka com limão e açúcar: bebe-se pouco e é só enrolar a noite toda com o mesmo copo . E veio o beijo, vieram os beijos. Sem consulta, levou-a a um motel: sem muito tato, meio atropelado pela bebida, apressado, jogou-a na cama, tentou lhe despir. Pareciam lutar, mas não havia agressividade. A quase "luta" durou alguns minutos até que, exausto, vencido pelo tanto que bebera - desistiu. Júlia não quis, não deixou - estava assustada: ainda não havia tido nenhuma experiência com um homem - era virgem, mas jamais divulgaria tal coisa! Sem se explicar muito, apenas pediu mais tempo. Ele parecendo sub-entender seu medo... sorriu... Não foi daquela vez. Levou-a em casa.
A partir dali, Roberto sempre dava um jeito de ficar com ela fora do horário de trabalho - beijavam-se no escritório, quando todos já haviam saído; ainda ansioso, tocava-lhe seu corpo e Júlia já não fugia e permitia. Deixava-se seduzir e seduzia. Na cozinha, certa vez, a copeira quase presenciou toda uma cena: ela, sentada em cima do balcão, sendo beijada, tocada pelo chefe... rapidamente, fora da posição de risco, disfarçaram - um cafezinho, a água, os olhares trocados e um sorriso entre dentes - uma respiração forte de alívio significando:
" - Foi por pouco!" - mas seria infantil pensar que a copeira não houvesse percebido... Nada demais para alguém que já havia visto cenas semelhantes dezenas de vezes num final de expediente.
No dia-a-dia, o trabalho, tudo corria absolutamente normal. Era como se nada acontecesse entre eles, a não ser a simpatia de sempre. Eram respeitosos e gentis um com o outro, sem desconfortos em relação a hierarquia e trabalho a ser cumprido. Não havia cobranças ou intimidações. Júlia nem pensava na tal palavra... "assédio"... e seria!? Pois na verdade, se fosse, seria um "quase assédio". Não havia para ela nada de errado, a não ser o fato de não o querer como "quase alguma coisa". Para ele, era atração mesmo, tesão pela sua juventude, por ela e até quem sabe... admiração também.
Para os dois, tudo que aconteceu, poderia ter significado talvez um ..."quase amor". Poderia... :
Não demorou muito e Júlia pediu para sair. Outros planos, um amor real, outra vida...
Rossana
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