Livre-se da ansiedade


Em um ambiente natural, a ansiedade, assim como o medo, é uma importante ferramenta para garantir a sobrevivência. Evolutivamente, essa reação biológica serviu para nos deixar alertas durante emergências e situações perigosas. Mas não vivemos mais nesse ambiente selvagem, e a ansiedade desencadeada por situações cotidianas – que na maioria das vezes não são perigosas, de fato – acaba por gerar diversos efeitos negativos em nossa saúde física e mental.
444500 self portrait sxc Livre se da ansiedade   Diversas estimulações ambientais levam ao desencadeamento de reações ansiosas, mesmo que não representem perigo, explica Rodrigo Fernando Pereira, pesquisador do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP/USP). “E isso se deve basicamente a crenças pessoais de que determinadas situações são muito mais intensas do que realmente são.”
Para o especialista, isso se deve principalmente a uma falta de visão crítica sobre a situação vivenciada. “As pessoas acabam dando uma importância exagerada às suas responsabilidades. Têm um prazo no trabalho e se acham que não conseguirão cumprir, acabam desencadeando um processo de ansiedade. Ninguém precisa ser um superprofissional o tempo todo, mas os indivíduos acabam incutindo essa crença. Isso vale para os pais e mães. Até mesmo a busca pela felicidade constante pode gerar sentimentos ansiosos”, diz Pereira.
As reações a todas essas situações precisam ser proporcionais ao que elas realmente podem causar. Não cumprir um prazo não faz da pessoa uma profissional pouco competente, explica o especialista.
Convivendo com a ansiedade
Pereira e Edwiges Mattos Silvares, também pesquisadora do IP/USP, são responsáveis pela revisão técnica do livroLivre da Ansiedade, escrito por Robert Leahy e publicado pelo Grupo A. Ele explica que é preciso equilíbrio, acima de tudo.
“A ansiedade é algo com o qual temos de conviver. É difícil se livrar totalmente dela, e essa é uma das provocações do título do livro. Livrar-se da ansiedade por completo, além de impossível, também pode levar a um desequilíbrio. Da mesma forma que tentar controlar todos os fatores da vida cotidiana é impossível – e essa é uma das maiores fontes de ansiedade nas pessoas ultimamente – o inverso pode levar a uma pessoa sem objetivos ou que nunca vê o perigo do que faz”, explica.
E além de assumir que o controle total da vida é algo ilusório, é preciso também saber impor limites a si mesmo – observando a hora de parar de se cobrar para a perfeição – e para as outras pessoas (chefes, maridos, esposas ou amigos), que pressionam para que prazos, metas e situações sejam cumpridos de forma praticamente idealizada. “Aprender a dizer não e impor os limites do que é possível é a principal forma de evitar que a ansiedade tome conta da vida”, afirma Pereira.
Não saber impor esses limites pode levar ao desenvolvimento dos chamados transtornos ansiosos, que incluem as fobias e a síndrome do pânico. “As fobias se desenvolvem porque a pessoa se sente muito ansiosa em uma situação específica – nos encontros sociais, em atividades dentro do trabalho, no trânsito, por exemplo – e associam isso àquela situação, evitando repeti-la. Já o pânico é pontual e envolve respostas físicas – como respiração ofegante, suor excessivo, entre outros. Se esse pânico é muito forte, pode chegar ao transtorno do pânico, no qual a pessoa tem medo de sentir medo. Esses transtornos podem fazer que as pessoas se isolem, atrapalhando que a vida normal se desenvolva”, diz.
Livre-se das regras
Livrar-se da ansiedade é deixar de lado a ideia de que para tudo na vida existem regras rígidas de como as coisas devem acontecer. Essa é a primeira coisa a ser feita para que a ansiedade não extrapole os limites e avance sobre todas as outras áreas da sua vida. Pereira dá mais algumas dicas:
• Evite dar importância excessiva aos prazos muito rígidos, perfeição e expectativas das outras pessoas sobre você. E também não perceba uma falha como uma derrota pessoal.
• O controle de tudo na vida é ilusório. Aprenda a lidar com o imprevisto e entenda isso como uma forma de aprendizado, não uma sina.
• Aprenda a dizer não e a impor limites às pessoas ao seu redor. E não deixe suas responsabilidades virarem uma bola de neve: quando perceber que não vai dar conta de uma responsabilidade, no trabalho ou em casa, sinalize que precisará de ajuda.
• Não existem modelos de comportamento. Cada um tem suas potencialidades e limites. Saiba quais são os seus e entenda que todos têm de lidar com isso.
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por Enio Rodrigo

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