Suas Mãos

Estava deitada ao lado de um amor recente quase os dois em concha ( Amor recente é aquele que nos deixa mole, preguiçosos de viver outra coisa que não seja o amor. Amor recente tem uma vida própria deliciosa e nos convida o tempo todo a sonhar ). 
Haviam feito amor - um sonho, não um projeto... não algo planejado. Seu coração de mulher impulsiva e quente estava calmo, tranquilo e batia como quase sempre depois que realizava suas próprias vontades : quase imperceptível.
No escuro do quarto. Nada podia ser visto, mas naquela escuridão, enxergar ou não, não fazia a menor diferença. Deitada ao lado dele, o prazer agora era estar ali, a emoção era querer estar ali e sem mudar de posição, ela de costas, busca seu braço.

Delicada e lentamente o conduziu  para que a cobrisse, como num abraço de costas.A concha então se formava. Queria-o perto.
Tocou-o em seu braço, sentindo os detalhes dos músculos, dos pelos e, descendo, chegou até a  mão que havia imaginado antes.Eram fortes as mãos do novo amor, tal qual esperava.

Tudo sem pressa, era como se quisesse sentir sua alma, através de um dos sentidos disponível naquela hora: o tato  - o toque - tatear e ver através. E bem devagar tocou o lado externo da mão, os dedos... medindo, deslizando, acarinhando, sentindo...levemente, como se não quisesse tocar de verdade, mas sugerir o toque; como se não desejasse descobrir, desejando transformar aquele momento em eterno - não queria que a noite passasse, não pensava em ir embora, pois não existia o ir naquele instante...

Os dedos desenhados pelo tato, tomavam forma e  textura, naquele exercício no escuro: a pele  era de alguém que gostava de usar as mãos, sim ela sabia antes, e as havia sentido em seu corpo : a pele grossa , pronta para enfrentar o que viesse. Sua mão  não escondia o modo de ser de um homem acostumado a pouco carinho, mas o sensível suficiente a ponto de se apaixonar por tudo que fazia e de se deixar amar por ela - mesmo tão distante.Trouxe-o, então, até seu próprio rosto - queria, precisava  do cheiro como prova de que não estava sonhando.Sorveu -o com delicadeza , sentiu  seu calor e num impulso beijou sua mão com carinho, tocando-o agora com seus lábios numa exploração lenta e silenciosa.

Delicadamente,  percorria a parte interna da mão daquele novo homem em sua vida(Até quando faria parte dela? não fazia planos ali e quando o sol nascesse estaria longe, e a eternidade do que sentia levaria consigo) e chegava  à base interna dos dedos. Ali  mais grossa a pele se fazia: mãos calejadas, calos  reais - eram eles a prova de que tudo que trocaram era também real - e como se fossem frágeis, ela os tocou com  cuidado, com tanto medo de machucar, como se  o pudesse. Acariciou cada um deles e quase  sem querer, exclamou admirada com aquela verdade cravada na mão do seu amor -  e ele repetiu suas palavras em eco, como quem diz - sim, são eles!!!

Adormeceram. 
Rossana.

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