(Não) quero sentir nada

Subindo o mais alto que posso, despida, sem proteção.
Uma montanha tão alta!...longa caminhada em ascendência: o escalar se torna cada vez mais difícil, o ar me falta nos pulmões - o ar rarefeito - mas continuo subindo... e o corpo dói, a cabeça, a vida dói. As pedras, o frio machucam os pés, as mãos, a pele, mas continuo subindo.
Procuro não pensar, mas os pensamentos vêm em rajadas e me jogam contra a montanha... meus pensamentos...
Quero um momento de  sono profundo. Um torpor, uma dormência. O corpo inerte, a mente inerte - quero  a anestesia, a escuridão da anestesia: Lá onde não sentimos nada, onde nem sonhamos... onde nem existimos,  nada, ninguém existe......o corpo ali levita confortavelmente...

Continuo a subir, não tenho opção. Descer agora é  covardia. 
Descer, só depois: mas aí me jogo como sempre me joguei, num outro grande mergulho - me lanço num salto mortal, sem medo, sem covardia e então, talvez encontre novamente o prazer de sentir. Mas agora não.
Agora é subir o que anseio.

E mesmo sem querer sentir a dor, mesmo querendo a dormência, as pedras e os pensamentos me mostram que nada pode ser como quero.
Continuo subindo.
Vou atingir o cume - quero o prazer de chegar em um lugar onde só o vento e o chão sob os meus pés existam. Quero ao menos o prazer de sentir o vento  - sem paixão, nem amor, sem ninguém, sem nada -  só o vento. 
O nada é o vento.

Rossana


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