Orgasmo fingido como presente no 1º de abril


Todo começo de amor é meio inventado, tem um quê de fictício na narrativa, portanto toda história de amor começa com uma mentira.
A manutenção amorosa também carece de pequenas fraudes. Não, você não engordou nadinha de nada, você é o melhor homem que já tive na cama etc etc.
O amor também acaba por suas mentiras, trapaças, pulhas, lorotas, petas (pronuncia-se pêtas), farsas e mais um zilhão de sinônimos.
Nenhuma mentira de amor, no entanto, é tão generosa como a mentira prática do orgasmo fingido.
O belo teatro do orgasmo fingido. Haja distanciamento brechtiano, minhas amigas atrizes.
Longe de ser uma falsidade, o orgasmo fingido é um ato franciscano, meu caro xará e novo papa.
A criatura mostra ao parceiro como ele é capaz, potente, viril, macho.
O orgasmo fingido dignifica o homem e abre o caminho para futuros orgasmos de verdade. Treino é treino, jogo é jogo.
Um orgasmo fingido, como escrevi em outras aberturas de abril, parece até mais verossímil do que um gozo que deveras sente a desalmada.
Por quê? Ah, as onomatopeias do fingimento são mais calculadas e sinceras –lembram até alguns barulhos geniais dos discos do Frank Zappa ou do Captain Beefheart.
A dramaturgia é mais paradoxalmente verdadeira, se é que você me entende a essa altura da filosofia de boteco.
A gritaria de um orgasmo fingido impressiona mais os vizinhos: esse cara está podendo, pensam as minas do prédio.
Uma mulher me prometeu hoje um orgasmo fingido no dia da mentira. Fiquei instigado de poder levá-la a um orgasmo de verdade. Repare como funciona e motiva o sujeito.
Um orgasmo fingido é muito melhor do que a velha desculpa da dor de cabeça.
Um orgasmo fingido é um grande presente para o seu amado no dia de hoje. Como tudo na vida tem que ter um lastro simbólico, o orgasmo fingido está para o 1º de abril como o chocolate para a Páscoa.
Xico Sá- Jornalista
 daqui





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