Só um Nome

Leonardo, hoje, é só um nome. Não é só um nome de personagem, mas um nome real. Como o meu.

Ontem, um tempo atrás, era um modo de como eu aprendia a fazer coexistir o mundo masculino e o meu mundo: De igual para igual, sem vontades de seduzir ou conquistar, ainda que a natureza me chamasse...  Não porque Leonardo fosse feio ou pouco atraente, o fato de não ter existido desejo, mas porque esse era  meu jeito, parte do meu conceito de humanidade, de igualdade. E assim era, simplesmente, um amigo possível.

Leonardo era do interior, não era da capital.
Era grande, de constituição forte, rosto largo, tez branca e sanaguínea. Depois de tanto tempo passado, os rostos, normalmente, costumam-se esvanecer, tornando-se impressões e não imagens. Leonardo, não: quando fecho os olhos, sua imagem está aqui.

Ele me incluía no chamado "mundo masculino". Eu estava presente. Era risonho e gentil com todos. Se tivesse defeitos, não os conheci.
Chamava-me de Rosana.  Não conseguia inserir outro "s" na pronúncia, e eu deixava pra lá porque era Leonardo.
Sentávamos juntos na escola e quando chegava atrasado e tinha que sentar-se distante, sempre buscava-me com os olhos sorridentes, deixando para o intervalo, vir ao meu encontro.

Era noivo. Palavra  dita cerimoniosamente. Palavra que, pra mim, bloqueava qualquer vontade de viver, eu que via o mundo como um lugar cheio de oportunidades para amar e conhecer gente. Talvez porque eu não amasse. .. ainda... Talvez porque visse esses costumes como cerceadores. Intuitivamente, era essa a minha quase certeza de mundo. Não era um talvez, era a minha coerência, a minha natureza. Ele, por sua vez, não parecia me ver  como uma mulher possível, talvez exatamente pelo ser noivo, talvez porque não me achasse bonita e  isso, absolutamente, não me incomodava, não tinha eu, pretensão, nem desejo.

Leonardo queria me emprestar um livro e me convidou à sua casa. 
Ver de perto a intimidade de um homem sempre me atraiu no sentido sensual. Sinto ainda as impressões, os reflexos daquele dia ensolarado, a sensualidade do momento que era minha, só minha. E minha presença, quiçá, nada fosse para ele,  porque simplesmente Rosana, sem um "s" a mais, fosse também sem tesão.

Agora, minha única certeza é que seu nome me faz bem  e quando fecho os olhos, vejo os olhos sorridentes de Leonardo.
R.Ac




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